HISTÓRIA


O grupo surgiu a partir de um reagrupamento de diversos povos indígenas que habitavam a região. Documentos indicam que, desde a década de 1700, os indígenas daquela região enfrentam problemas com a ocupação não indígena da região. A distribuição de terras no Brasil, a partir das capitanias hereditárias, serviu como um mecanismo de dispersão de populações nativas, como ocorreu, por exemplo, nas terras interioranas de Pernambuco. Os indígenas fulniôs resistiram à ocupação não índia, mantendo, até hoje, por exemplo, o ritual do ouricuri.Os dados mais antigos sobre a população Fulni-ô remontam a 1749, quando, segundo registro da “Informação Geral da Capitania de Pernambuco” (1906), na aldeia da Ribeira do Panema, viviam 323 pessoas pertencentes a este grupo. Estêvão Pinto, citando como fonte relatórios da Diretoria dos Índios, diz que em 1855 a população ascendia a 738; já em 1861 esta cifra havia caído quase pela metade, pois só restavam 382 pessoas, que compunham 90 famílias (Pinto, 1956:25). Comenta o autor citado que a causa da diminuição da população pode ter sido uma epidemia de cólera que atacou a aldeia em 1856. Em 1873 o número de indígenas Fulni-ô se reduziu a pouco menos de uma centena.

Pouco a pouco a população foi se recuperando; em 1922 a aldeia contava com aproximadamente 500 índios “…distribuídos por cento e cinquenta choças, quase todas de palha” (Pinto, 1956: 26). Deduzimos que já para 1937 deva ter aumentado consideravelmente o número de indígenas Fulni-ô, pois, em um artigo escrito naquela época, Carlos Estêvão de Oliveira, ao referir-se a este grupo, comenta que havia um milhar de pessoas que falavam a língua Ia-tê.

O território dos Fulni-ô é a terra de Águas Belas. Águas Belas está totalmente rodeadas pelos Fulni-ô que fica a 273 km da capital do estado. Os Fulni-ô atualmente ocupam uma área dividida em 427 lotes individuais, que totalizam 11505 ha.


Fonte: Google maps, Águas Belas

Ritual do ouricuri

O ouricuri é uma região que integra as terras fulni-ô em Águas Belas, e onde os índios fulniôs praticam reclusão coletiva durante três meses. Neste local, os não fulniôs só podem adentrar com autorização do pajé, e nunca durante a prática do ritual. Os fulni-ô mantêm o conjunto de elementos que compõe a religião em segredo, pois acreditam que o segredo protege suas especificidades culturais.

No interior do ouricuri, existe a separação de ambientes para homens e para as mulheres. Também é lá que habita o juazeiro sagrado, árvore que simboliza, para os indígenas, a maior imagem da natureza sagrada. Todos os índios devem participar da reclusão coletiva, pois isto é regra obrigatória para torna-se fulni-ô. Quem não frequenta o ouricuri não é considerado um fulni-ô legítimo.









O Povo

Os Fulni-ô (palavra que significa “ povo que vive ao lado do rio”, em português) têm seu local de moradia no município de Águas Belas, junto à cidade de mesmo nome, a uma distância de 237 km, do Recife, capital do Estado de Pernambuco.

Em dezembro de 2013 Brasília ficou mais rica social e culturalmente, pois a Justiça Federal do Distrito Federal emitiu uma decisão histórica por meio de sentença judicial conferindo novos rumos para a questão indígena no Distrito Federal, principalmente no que toca à efetivação de direitos, visibilidade e combate ao preconceito.

Esse dia ficará marcado na história e na memória da cidade Capital do Brasil, quando finalmente foram reconhecidos os direitos territoriais da comunidade Tapuya-Fulni-Ô do Santuário dos Pajés sobre parte da área ocupada da antiga Fazenda Bananal, situada no setor noroeste de Brasília. Com base em diversos laudos e pareceres técnicos da FUNAI, inspeções judiciais e demais provas, o Juiz Federal da 2ª Vara, Dr. Paulo Ricardo de Souza Cruz reconheceu que a ocupação indígena dos Fulni-Ô Tapuya do Santuário dos Pajés nas imediações do Plano Piloto de Brasília se trata de terra tradicionalmente ocupada nos moldes do Artigo 231 da Constituição Federal.

A sentença judicial prolatada pelo Juiz Federal Paulo Ricardo em função da Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público Federal (6ª Câmara da Procuradoria Geral da República e Procuradoria da República no Distrito Federal) no ano de 2009 que solicitava a proteção da ocupação indígena dos Fulni-Ô Tapuya do Santuário dos Pajés através da identificação e demarcação da terra indígena e do reconhecimento da tradicionalidade do modo de ocupação levado a cabo pelos indígenas Fulni-Ô desde o período que remonta a construção de Brasília e anterior a Constituição de 1988.

O indigenista da Funai, Frederico Magalhães, conhece o território e a comunidade indígena do Santuário Tapuya há bastante tempo e, em entrevista a pedido da comunidade Fulni-Ô do Santuário, fez algumas considerações sobre a sentença da Justiça Federal do DF e a importância histórica desse reconhecimento não apenas para a comunidade indígena Fulni-Ô Tapuya, mas também para toda a sociedade brasileira e brasiliense em particular, sobretudo porque o reconhecimento da Terra Indígena Santuário dos Pajés é a prova de que é possível conviver com as diferenças culturais, com modos de viver e pensar culturalmente diferenciados, respeitando as tradições e costumes indígenas, além de receber um pulmão espiritual verde de Cerrado cultivado e preservado pela cultura tradicional dos indígenas Fulni-Ô-Tapuya. Ganham todos os brasilienses e brasileiros, e as futuras gerações, com o fortalecimento da cidadania indígena e da tolerância étnica, religiosa e cultural, numa convivência plural, democrática e multicultural entre a diversidade socioambiental e étnica que marca Brasília como a capital multiétnica de todos os brasileiros e brasileiras.

A luta e resistência dos indígenas Fulni-Ô-Tapuya do Santuário dos Pajés que saíram das matas do Cerrado e ganhou o apoio da cidade, da juventude e dos movimentos sociais do Distrito Federal para buscar o reconhecimento de seus direitos, de sua forma de vida tradicional, de sua identidade étnica e de seu território historicamente constituído a partir da construção de Brasília em 1957 obteve com a sentença da Justiça Federal do DF o reconhecimento por parte do Estado brasileiro de seu “direito à cidade”, mas um direito à cidade de maneira diferenciada, nos moldes do artigo 231 da Constituição Federal, engendrado por um modo de ocupação da terra culturalmente tradicional em meio às matas de Cerrado do Plano Piloto de Brasília.

O poder público foi obrigado a reconhecer ao longo das décadas de 1960-1970, o direito à cidade aos milhares de trabalhadores candangos – marginalizados na própria cidade que ajudaram a construir. A criação das “cidades-satélites” a partir das mobilizações sociais dos candangos e pioneiros na luta pela permanência no seu novo território culmina agora com a decisão histórica da Justiça Federal do Distrito Federal que proclamou os direitos territoriais originários dos indígenas candangos do Santuário dos Pajés a partir do reconhecimento da tradicionalidade do modo de ocupação indígena da primeira e única “Terra Indígena-Satélite” do DF, o território do Santuário Tapuya dos Pajés habitado pelos índios candangos Fulni-Ô Tapuya ao longo de cinco décadas e três gerações.

Numa distancia de 310 km, de Recife até o município de Águas Belas, no sertão pernambucano, chegamos a reserva da tribo dos índios Fulni-ô, o único grupo indígena do nordeste brasileiro que conseguiu manter seu idioma original, transmitido, oralmente, de geração em geração, por séculos.

Na aldeia, vivem, atualmente, mais de 3.000 Fulni-ô que falam Yaathê e português. A reserva indígena tem duas aldeias, uma para as atividades do dia-a-dia e a outra para a realização do ritual do Ouricuri que acontece, anualmente, durante os meses de setembro, outubro e novembro. A cerimônia é restrita aos Fulni-ôs, que permanecem no local durante todo o período.

Para os Fulni-ô, a origem do índio é a sua linguagem, por isso, a língua Yaathê, é considerada o maior símbolo da cultura do grupo. Para manter a língua mãe ativa entre as novas gerações e para parte dos índios que vivem fora da reserva, foi criada a Rádio Educativa Cultural Fulni-ô, cuja programação é produzida pelos alunos e professores da escola bilíngue da aldeia.

Além da língua, as manifestações culturais incluem a dança e a música. As danças são inspiradas nos movimentos dos animais, enquanto as músicas, cantadas em duas vozes por homens e mulheres em Yaathê, é a forma como fazem contato o sagrado. Os Fulni-ô também prezam muito pelo uso de adereços, cocar e pela pintura corporal, como forma de manter a sua tradição.